Domingo, 01 de
abril de 2012, 15h50
Homilia de Bento XVI - Missa de Ramos - 01/04/2012
Boletim da Santa
Sé
Homilia
Missa de Ramos
Basílica de São Pedro
Domingo, 01 de abril de 2012
Missa de Ramos
Basílica de São Pedro
Domingo, 01 de abril de 2012
Queridos
irmãos e irmãs
O
Domingo de Ramos é o grande portal de entrada na Semana Santa, a semana em que
o Senhor Jesus caminha até ao ponto culminante da sua existência terrena. Ele
sobe a Jerusalém para dar pleno cumprimento às Escrituras e ser pregado no
lenho da cruz, o trono donde reinará para sempre, atraindo a Si a humanidade de
todos os tempos e oferecendo a todos o dom da redenção. Sabemos, pelos
Evangelhos, que Jesus Se encaminhara para Jerusalém juntamente com os Doze e
que, pouco a pouco, se foi unindo a eles uma multidão cada vez maior de
peregrinos. São Marcos refere que, já à saída de Jericó, havia uma «grande
multidão» que seguia Jesus (cf. 10, 46).
Nesta
última parte do percurso, tem lugar um acontecimento singular, que aumenta a
expectativa sobre aquilo que está para suceder, fazendo com que a atenção geral
se concentre ainda mais em Jesus. À saída de Jericó, na beira do caminho, está
sentado pedindo esmola um cego, chamado Bartimeu. Quando ouve dizer que Jesus
de Nazaré estava chegando, começa a gritar: «Jesus, Filho de David, tem piedade
de mim!» (Mc 10, 47). Procuram silenciá-lo, mas sem sucesso; por fim Jesus
manda-o chamar, convidando-o a aproximar-se. «O que queres que Eu te faça?» -
pergunta-lhe. E ele: «Mestre, que eu veja!» (v. 51). Jesus responde: «Vai, a
tua fé te curou». Bartimeu recuperou a vista e começou a seguir Jesus pela
estrada (cf. v. 52). Depois deste sinal prodigioso precedido pela invocação
«Filho de David», de improviso levanta-se um frêmito de esperança messiânica no
meio da multidão, fazendo com que muitos se perguntassem: Poderia este Jesus,
que caminhava à sua frente para Jerusalém, ser o Messias, o novo David?
Porventura teria chegado, com esta sua entrada já iminente na cidade santa, o
momento em que Deus iria finalmente restaurar o reino de David?
Também
a preparação da entrada, combinada por Jesus com os seus discípulos, ajuda a
aumentar esta esperança. Como ouvimos no Evangelho de hoje (cf. Mc 11,1-10),
Jesus chega a Jerusalém vindo de Betfagé e do Monte das Oliveiras, isto é,
seguindo a estrada por onde deveria vir o Messias. De Betfagé, Ele envia à sua
frente dois discípulos, com a ordem de Lhe trazerem um jumentinho que encontrarão
no caminho. De fato encontram o jumentinho, soltam-no e levam-no a Jesus.
Naquele momento, o entusiasmo apodera-se dos discípulos e também dos outros
peregrinos: pegam nos seus mantos e colocam-nos uns sobre o jumentinho e outros
estendidos no caminho por onde Jesus passa montado no jumento. Depois cortam
ramos das árvores e começam a apregoar expressões do Salmo 118, antigas
palavras de bênção dos peregrinos que, naquele contexto, se tornam uma
proclamação messiânica: «Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito
seja o reino que vem, o reino de nosso pai David! Hosana no mais alto dos
céus!» (vv. 9-10). Esta aclamação festiva, transmitida pelos quatro
evangelistas, é um brado de bênção, um hino de exultação: exprime a convicção
unânime de que, em Jesus, Deus visitou o seu povo e que o Messias ansiado
finalmente chegou. E todos permanecem lá, numa crescente expectativa da ação
que Cristo realizará quando entrar na sua cidade.
Mas
qual é o conteúdo, o sentido mais profundo deste grito de júbilo? A resposta
é-nos dada pela Escritura no seu conjunto, quando nos lembra que no Messias se
cumpre a promessa da bênção de Deus, a promessa feita por Deus originariamente
a Abraão, o pai de todos os crentes: «Farei de ti um grande povo e te abençoarei
(...). Em ti serão abençoadas todas as famílias da terra!» (Gn 12, 2-3).
Trata-se de uma promessa que Israel mantivera sempre viva na oração,
especialmente na oração dos Salmos. Por isso, Aquele que a multidão aclama como
o Bendito é, ao mesmo tempo, Aquele em quem será abençoada a humanidade
inteira. Assim, na luz de Cristo, a humanidade reconhece-se profundamente unida
e, de certo modo, envolvida pelo manto da bênção divina, uma bênção que tudo
permeia, tudo sustenta, tudo redime, tudo santifica.
E
aqui podemos descobrir uma primeira grande incumbência que nos chega da festa
de hoje: o convite a adotar a visão reta sobre a humanidade inteira, sobre os
povos que formam o mundo, sobre suas diversas culturas e civilizações. A visão
que o crente recebe de Cristo é um olhar de bênção: um olhar sapiencial e
amoroso, capaz de captar a beleza do mundo e condoer-se da sua fragilidade.
Nesta visão, manifesta-se o próprio olhar de Deus sobre os homens que Ele ama e
sobre a criação, obra das suas mãos. Lemos no Livro da Sabedoria: «De todos
tens compaixão, porque tudo podes, e fechas os olhos aos pecados dos mortais,
para que se arrependam. Sim, amas tudo o que existe e não desprezas nada do que
fizeste; (...) a todos, porém, tratas com bondade, porque tudo é teu, Senhor
amigo da vida» (Sb 11, 23-24.26).
Voltando
à passagem do Evangelho de hoje, perguntemo-nos: Que pensavam, realmente, em
seus corações aqueles que aclamam Cristo como Rei de Israel? Certamente tinham
a sua idéia própria do Messias, uma idéia do modo como devia agir o Rei
prometido pelos profetas e há muito esperado. Não foi por acaso que a multidão
em Jerusalém, poucos dias depois, em vez de aclamar Jesus, grita para Pilatos:
«Crucifica-O!», enquanto os próprios discípulos e os outros que O tinham visto
e ouvido ficam mudos e confusos. Na realidade, a maioria ficara desapontada com
o modo escolhido por Jesus para Se apresentar como Messias e Rei de Israel. É
precisamente aqui que se situa o ponto fulcral da festa de hoje, mesmo para
nós. Para nós, quem é Jesus de Nazaré? Que idéia temos do Messias, que idéia
temos de Deus? Esta é uma questão crucial, que não podemos evitar, até porque,
precisamente nesta semana, somos chamados a seguir o nosso Rei que escolhe a
cruz como trono; somos chamados a seguir um Messias que não nos garante uma
felicidade terrena fácil, mas a felicidade do céu, a bem-aventurança de Deus.
Por isso devemos perguntar-nos: Quais são as nossas reais expectativas? Quais
são os desejos mais profundos que nos animaram a vir aqui, hoje, celebrar o
Domingo de Ramos e iniciar a Semana Santa?
Queridos
jovens, aqui reunidos! Em todos os lugares da terra onde a Igreja está
presente, este Dia é especialmente dedicado a vós. Por isso, vos saúdo com
muito carinho! Que o Domingo de Ramos possa ser para vós o dia da decisão: a
decisão de acolher o Senhor e segui-Lo até ao fim, a decisão de fazer da sua
Páscoa de morte e ressurreição o sentido da vossa vida de cristãos. Tal é a
decisão que leva à verdadeira alegria, como quis recordar na Mensagem aos
Jovens para este seu Dia - «Alegrai-vos sempre no Senhor» (Flp 4, 4) -, e como
se vê na vida de Santa Clara de Assis, que há oitocentos anos – exatamente no
Domingo de Ramos –, movida pelo exemplo de São Francisco e dos seus primeiros
companheiros, deixou a casa paterna para consagrar-se totalmente ao Senhor: com
dezoito anos, teve a coragem da fé e do amor para se decidir por Cristo,
encontrando n’Ele a alegria e a paz.
Queridos
irmãos e irmãs, dois sentimentos nos animem particularmente nestes dias: o
louvor, como fizeram aqueles que acolheram Jesus em Jerusalém com o seu
«Hosana»; e a gratidão, porque, nesta Semana Santa, o Senhor Jesus renovará o
dom maior que se possa imaginar: dar-nos-á a sua vida, o seu corpo e o seu
sangue, o seu amor. Mas um dom assim tão grande exige que o retribuamos
adequadamente, ou seja, com o dom de nós mesmos, do nosso tempo, da nossa
oração, do nosso viver em profunda comunhão de amor com Cristo que sofre, morre
e ressuscita por nós. Os antigos Padres da Igreja viram um símbolo de tudo isso
num gesto das pessoas que acompanhavam Jesus na sua entrada em Jerusalém: o
gesto de estender os mantos diante do Senhor. O que devemos estender diante de
Cristo – diziam os Padres - é a nossa vida, ou seja, a nós mesmos, em sinal de gratidão
e adoração. Para concluir, escutemos o que diz um desses antigos Padres, Santo
André, Bispo de Creta: «Em vez de mantos ou ramos sem vida, em vez de arbustos
que alegram o olhar por pouco tempo, mas depressa perdem o seu vigor,
prostremo-nos nós mesmos aos pés de Cristo, revestidos da sua graça, ou melhor,
revestidos d’Ele mesmo (…); sejamos como mantos estendidos a seus pés (…), para
oferecermos ao vencedor da morte não já ramos de palmeira, mas os troféus da
sua vitória. Agitando os ramos espirituais da alma, aclamemo-Lo todos os dias,
juntamente com as crianças, dizendo estas santas palavras: "Bendito o que
vem em nome do Senhor, o Rei de Israel"» (PG 97, 994). Amém!

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